Agricultores de Bom Jesus do Galho transformam chuva em reserva contra a seca

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Prática iniciada em 2015 reúne agricultores de diferentes povoados em torno de soluções simples e acessíveis para armazenar água da chuva e preservar nascentes

BOM JESUS DO GALHO – As chuvas que começaram a cair sobre o município nos últimos dias reacenderam o trabalho coletivo de agricultores do município que se preparam para enfrentar estiagens cada vez mais severas. Cavando caixas secas, levantando açudes, escavando barraginhas e implantando terraços, eles têm uma meta clara: reter e infiltrar a água das chuvas, fortalecer nascentes e manter lavouras vivas.

No Córrego Grande, a 7 km da sede, José Geraldo Raspante começou em 2015 inspirado por uma reportagem no Globo Rural. Desde então, construiu cerca de 20 caixas secas, além de represas licenciadas e cinco nascentes cercadas. “Depois que fiz as caixas e as represas, a água da minha propriedade dobrou. Mesmo em três meses sem chuva, encontro reservatórios cheios”, conta.

TERRACEAMENTO

Na comunidade da Poaia, José Batista de Souza, o Zé do Limiro, herdou as terras do pai em 2015 e espalhou mais de 50 caixas secas em sete hectares, além de um açude.
“Eu comecei de cima para baixo e hoje toda a chuva fica dentro da lavoura. Um hectare precisa de dezenas de caixas para segurar a água”, explica. Atualmente, aposta no terraceamento para proteger os 25 mil pés de café.

Em Porto, Geraldo Melo adotou as “barraginhas” após um dia de campo da Emater. Desde 2015, mantém escavações que já acumularam até um milhão de litros de água. Ele também participou do cercamento de 238 nascentes em parceria com a Emater e a Fundação Banco do Brasil.
“Essas práticas são simples, mas faltam programas de incentivo. O poder público precisa apoiar quem produz e preserva água”, afirma.

MUDANÇA NA PAISAGEM

As visitas foram acompanhadas por José Nunes, 93 anos, e sua neta, a engenheira florestal Karine Nunes. No terreno de Raspante, o avô recordou quando atravessava aquelas terras, a pedido da mãe, levando novelos de linha para a tecelagem de cobertores. “Conheço essa região desde criança e percebo a diferença: antes havia mais mata nativa, hoje são pastos. Essas caixas devolvem vida à terra”, disse.

Karine destacou: “essas soluções populares, somadas ao reflorestamento, funcionam como um sistema de segurança hídrica. É o conceito de cidade esponja aplicado no campo”.

A Embrapa reconhece caixas secas e barraginhas como fundamentais para recarregar o lençol freático e evitar erosões. A ANA inclui bacias de infiltração, terraços e açudes entre suas diretrizes nacionais de conservação.

Além do impacto ambiental, há reflexo econômico: cada litro de chuva retido significa menos enxurrada destruindo lavouras e mais água infiltrada abastecendo córregos e rios. No médio prazo, isso reduz a pressão sobre sistemas públicos de captação, como os operados pela Copasa, e fortalece a segurança hídrica urbana. Em outras palavras: o investimento do agricultor gera economia coletiva e garante água não apenas no campo, mas também nas torneiras da cidade.

De Raspante, que viu a água dobrar em sua terra, a Batista, que retém cada gota nas caixas, passando por Melo, que cercou centenas de nascentes, todos compartilham a mesma certeza: preservar a chuva é plantar futuro.

 

 

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