Você já imaginou como seria descrever, na forma de um longo poema, que ocupa todo um livro, o que foi a tragédia do rompimento da barragem de Fundão, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, em novembro de 2015? Pois é o que fez o escritor, poeta e dramaturgo José Carlos Aragão no livro Rio Doce Rio, que será lançado no próximo dia 2 de outubro, em Belo Horizonte. Rio Doce Rio faz parte da coleção De Versos, que está sendo lançada pela Comunicação de Fato Editora, de Belo Horizonte. A coleção será dedicada apenas aos livros de poesia. O segundo lançamento da coleção será em novembro.
Aragão define Rio Doce Rio como um longo poema sobre a morte de um dos mais importantes rios do Brasil. “O poema é sobre vidas alteradas ou destruídas ao longo do rio e sua bacia; sobre o custo socioambiental do desastre, sobre responsabilidades nunca assumidas, sobre a impunidade que se arrasta pelo tempo, e sobre a importância da preservação da memória dos fatos, para que não se repitam”, afirma Aragão.
No poema, ele descreve o avanço da lama sobre os cursos d’água (krenak pressente a morte/o horror que passa ao largo/e faz cascudo e mandi/procurarem em terra firme/outros ares, outra sorte/sina – talvez – mais feliz). O autor também critica a não-punição dos culpados (Mas aqui a morte é outra/urdida nos gabinetes/na vileza da omissão/e na ambição desmedida/das grandes corporações). Aragão faz referência aos que morreram e aos que perderam tudo no rompimento da barragem (cada um que ainda vive/com casa, comida e pensão/ainda vê no Fundão vazante/sepulto/um parente, um móvel/um cão).
A barragem de Fundão era de propriedade da Samarco, uma associação entre a Vale e a mineradora inglesa BHP Billinton. Na forma de cobrança, Aragão cita a mineradora brasileira para indagar sobre a reparação dos danos causados. (Quanto vale/esse vale/recoberto/de rejeitos/e quem vai/pagar a conta/dos malfeitos?).
Rio Doce Rio tem prefácio do escritor Leo Cunha e posfácio do escritor e dramaturgo Wilson Coêlho, que considera o livro um poema testamento que, apesar de ser uma poesia da morte anunciada, “em seus versos tecidos de dor e lamento, é uma declaração de amor à vida”. Leo Cunha define Rio Doce Rio como uma ode e um tributo. “Um canto para um rio que era melodia e hoje é silêncio”.
O autor, José Carlos Aragão, nasceu às margens do Rio Doce, em Governador Valadares. É jornalista, escritor e dramaturgo, com formação em artes visuais pela UFMG. Tem mais de 30 livros publicados, de literatura infantil e juvenil, poesia, teatro e ficção. Foi finalista do Prêmio Jabuti de 2015 e recebeu cinco prêmios da União Brasileira de Escritores por obras de literatura infantil e juvenil.
Coleção De Versos
Rio Doce Rio faz parte da coleção de livros de poesia De Versos, que está sendo lançada pela Comunicação de Fato Editora, de Belo Horizonte, que até agora especializou-se em livros de não-ficção. Rio Doce Rio é a primeira incursão da editora na área de literatura. Este ano, serão dois lançamentos pela coleção De Versos: Rio Doce Rio e De Tudo o Que Foi Dito, do também mineiro Luiz Roberto Pereira, que escreve poemas desde a adolescência, mas somente agora terá seu primeiro livro publicado. De Tudo o Que Foi Dito será lançado em novembro.
De acordo com o jornalista Marcelo Freitas, diretor da Comunicação de Fato Editora, a opção pelo formato de coleção traz um benefício estratégico para os autores, pois faz com que a venda de um livro leve o leitor a querer conhecer os outros livros que integrarem a coleção. “No seu conjunto, você terá um impulsionamento extra da venda de todos os livros que fazem parte da coleção, beneficiando todos os autores”, afirma Marcelo Freitas.
Serviço
Rio Doce Rio será lançado no dia 2 de outubro, sábado, de 15h às 19h, no Agosto Butiquim, na rua Esmeralda, 298, bairro do Prado, em Belo Horizonte. O lançamento obedecerá a todas as normas sanitárias fixadas pela prefeitura de Belo Horizonte, como o distanciamento e o prazo dilatado (quatro horas) para que as pessoas compareçam ao evento.
O livro irá custar R$ 35.